Eu te vivo, e o faço agora,
quando a hora é foto do tempo
e a mão das coisas tece o vazio.
- A esta armadilha chamaremos noite.
Pois que em breve, muito breve,
a areia da ampulheta consumirá este fruto
(nossa única imagem fiel).
- A este dissipar chamarão aurora.
Infinitas tentativas serão feitas,
vinda a manhã - gesto de porta -
E então o dia, larga sala aberta,
de finos sons e finos cheiros.
- A esta gestação chamaremos tarde.
Minha essência é de água e de tempo,
ora flui como rio, ora espera como ponte,
e a cara desta hora se perde
no buraco negro da memória:
caixa vazia de onde puxo teu retrato.
De agora em diante, não mais te vivo,
te escrevo.
Tua vida é agora minha vida;
tua perplexidade, meu susto.
Recupero este fruto perdido
com a tinta que encontro.
Recupero este fruto perdido?
Pensas que é disto que te falo,
mas é isto que te falo:
Amigo epistolar, a vida das coisas não pende por um fio se te calas?
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