terça-feira, 17 de setembro de 2013

daquilo que é doce, mas não é mole...

Duro é perceber que não, a resposta não é isso nem aquilo que você pensou, nem mesmo aquilo que você leu naquele excelente livro ou que o seu professor preferido falou na aula. A resposta está no meio. Você sabe e não sabe. Às vezes sabe, mas logo ela lhe escapole líquida por entre os dedos. Duro é perceber que sim, a culpada pelos seus problemas é você mesma, tudo resultou de suas escolhas, e não há nenhuma ilusãozinha anestésica, nenhuma mentirinha branca, nenhum chamado divino ou dever cívico pra usar como desculpa, você não fez por ninguém, em nome de causa alguma ou de algum deus, não se esquivou de decidir através do conselho do analista nem do melhor amigo, e agora - a-rá! - vem o preço que se paga, o preço justo, combinado, previsto e concordado, o único preço possível já que ao menos essa vida foi escolhida a dedo por você e ninguém te deu, então está tudo certo, e ainda assim é tão caro, meu deus. Duro é entender que lá no fundo do fundo do entendimento mora a impossibilidade da compreensão, duro é entender isso aí, essa coisa enorme, e não ter como voltar atrás, não ter como devolver na loja, não ter como deletar o arquivo, não ter como tirar os óculos. Duro é a partir daí perceber que desse (des)entendimento resulta uma perda total de estabilidade e segurança, é ver a bengala das crenças quebrar, ver o placebo perder o efeito, a fluoxetina deixar de ser opção, nem colírio nem óculos escuros; é ver que Freud não explica, que o sangue de Jesus não tem poder, que creme anti-ruga não acaba com a ruga que já está lá e as dez últimas dicas da Marie Claire sobre como deixar seu homem louco na cama não vão derrubar todos os muros da sua, que você criou e que criaram pra você. Duro é acordar consciente de que você tem consciência demais pra ainda estar dormindo, pra consumir garrafas de plástico, pra ter transas de uma noite só, pra engravidar e ver se um filho te distrai da sua dúvida, pra se engajar em conversas que escondem o que ninguém tem coragem de mencionar, pra mascarar um rosto pierrot com um sorriso fatal Lancôme, pra mentir pra você mesma que a vida te é dura, que você não tem culpa, que isso são os hormônios, o frio, o calor, a falta de amor do marido, a ingratidão dos filhos, a desconsideração do chefe, a falta de apoio do amigo. Duro é ser consciente o suficiente pra ficar absolutamente impossibilitada de se submeter a esses tipos de auto-engano, mas ainda não o bastante pra pegar o boi pelo chifre e domá-lo. Duro é se deparar cara a cara com o monstro, estática e com a respiração ofegante, olhos nos olhos da besta, tomando o último gole de ar antes de partir pra cima dessa fera.

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